Manual Noel

Depois de fazer vinte anos, os presente já não chegam de surpresa na árvore de Natal. O shopping é o verdadeiro papai Noel, e 50 por cento da graça dessa época perde o sentido, salvo o fato de ser férias, recesso, quando a família se reencontra.

Quando se tem 20 anos, para aqueles que não viveram debaixo da saia da mãe e entenderam um pouquinho da lógica cruel da sobrevivência, ganhar um presente caro para mostrar, ou se mostrar, aos amigos já também não tem tanto sentido. A gente já sabe que pode ser superado facilmente por características abstratas do outro. E não adianta… o homem deseja superar outro homem, ocupar seu lugar, e não é um adereço caro que vai ajudar muito nessa missão.

Aos vinte anos a gente é mais hipócrita. Sabemos que Papai Noel não existe, mas ainda pedimos presente, tentando dizer ao mundo que ainda somos crianças, e que pensamos como crianças, e que agimos inocentemente como crianças. Enquanto, na verdade, nossas intenções já estão recheadas e contaminadas de inveja, soberba e orgulho; a pornografia e prostituição dos valores.

Há a ilusão, como um sonho de Natal, que no final do primeiro ano de faculdade nos tornamos pessoas melhores, no sentido de perceber e aceitar os outros da maneira como são. Mas isso também pode ser só uma capa sob a qual nos escondemos, e guardamos os preceitos possessivos da nossa alma, que sempre nos fazem tentar convercer o outro de que a verdade está sob nossas individuais palavras e crenças.

Aos 20 anos, sinto necessidade de refletir. Pensar sobre o caminho que está sendo desenhado por mim mesma. Pensar se minhas escolhas valem a pena. Pensar se meu egoísmo sempre presente pôde ter me desviado do meu curso ideal de vida. Seria isso possível?

Refazer as prioridades da vida se torna mais que necessário.

Agora, depois da virada do ano, aquelas promessas como “fazer dieta” precisam começar a valer. Sinto necessidade de verdade nas minhas palavras; para meus próximos e para meu próprio bem e crescimento. Caso essa verdade e sinceridade não recebam o valor essencial, vou me tornar mais ignorante do que já sou, mais superficial do que já sou, e com isso, o vazio se instala e corrói todo e qualquer “potencial” que poderia existir na caminhada da história pós 20.

Olhar para o próprio umbigo, na Cidade Grande, é quase uma lei, infelizmente.

Mas eu não quero ser egoista. E ao mesmo tempo preciso olhar para mim mesma. Eu não quero errar com as pessoas, mas também quero aprender a me valorizar. Eu preciso ouvir mais a opinião dos outros, e ao mesmo tempo acho que tenho ideias incríveis que dariam certo.

Só sei que nesse conflito de questionamentos, o papai Noel fica confuso, e acaba por não dar mais presentes, fazendo do Natal uma época de troca de compras, e não presentes.

Quero as verdades; minha família, meus amados, meu sucesso, minha realização.

Quero minhas férias; dormir até tarde, mas não posso deixar de fazer tudo que eu não fiz o ano inteiro. Ou seja, um dia mais curto, só que com mais coisas para fazer.

Mas aprender a valorizar cada segundo com os pais, a irmã, o namorado, os amigos… Meu Deus, que coisa difícil.

Quero ser feliz,gastar minhas energias naquilo que me dá prazer, mas meu tempo está ocupado com mais obrigações…cada vez mais… ou então em situações sobre as quais não posso jogar um “foda-se”.

Bom, nessa brincadeira da vida, e do clichê de reflexão quando se chega ao final de um ano diferente de vida, ainda quero emagrecer, e virar uma mulher cada vez mais sinistra.

“Papai Noel, me dá um manual de instrução digital?”

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